quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O viajante

E pela longa noite caminhava sem rumo, noite gélida, escura e fúnebre. Mas ainda assim caminhava, foi nessas andanças que João foi parar num lugarejo pacato e extremamente aconchegante. Sentou-se na praça a espera do cantar dos pássaros, a espera do calor do sol para aquecer do frio que já tardia.
Parecendo um sonho, mas sabendo que era a mais pura realidade, se levantou do banquinho já aquecido por seu corpo, era um dia lindo. Céu azul e pássaros a cantar, como esperava encontrar.
Naquele lugarejo, avistou a paz que tanto procurava, paz que viu nos olhos da menina moça ainda encabulada por ver um homem bem afeiçoado, mas sem qualquer compostura para tirar as remelas de seus olhos. O nome dela era Maria.
Procurou logo na padaria um pão e um café para deixar de pé, pois a longa caminhada noturna tinha sido exaustiva. Ainda com a cara amarrotada comeu o pão e logo tomou o café que de tão quente, chegou a queimar-lhe a boca. Pagou tudo com moedas miúdas. Não se fez de diferente e logo foi saber ali mesmo na padaria se alguém precisava de empregado, pois homem da cidade também precisa trabalhar.
Por ordem do destino ou por pura sorte, foi encaminhado a casa de Maria, onde seu pai, único açougueiro da pequena vila precisará de um assistente. Lá viu sua chance de nova vida, estava próximo de Maria.
E assim se passou o tempo, trabalhando duro no açougue e na noite ajudava o irmão caçula de Maria a estudar, o menino acabava de aprender a escrever. João viu em Maria o desejo de mulher nos olhos de menina. Ainda que no receio de alguém ver, os dois começaram um romance.
Agora o rapaz já com a confiança do pai da moça, ensinava a menina a estudar também, mal sabia o patriarca, que os estudos não eram bem estudos. Levaram essa historia até o dia em que o irmão de Maria a pega aos beijos, ameaça contar ao pai mas Maria menina malandra que só, consegue convencer o irmão que nada fizera.
João agora assustado, com medo do podre menino contar ao pai o que teria visto João e Maria estavam fazendo, resolveu se abrir com Maria. Ela pedia para o rapaz que pedisse a mão dela a seu pai, pois assim namorariam em paz. Mas algo o impedia.
João pensando em ir embora, não fala nada a Maria, com medo da menina já não tão moça, contar alguma coisa a seu pai. Resolveu ir embora no entardecer, trabalhou como nunca, tão dedicado que seu patrão até o admirou naquele instante. A tarde caia, assim como a noite chegava e Maria a espera de João estava.
João não apareceu, Maria cada minuto mais impaciente, resolveu conversar com o pai. Contou-lhe tudo sobre João, do romance, das aulas que passaram de teorias e contou para ele o pior, o que nem João sabia. Disse estar grávida.
A fúria nos olhos do senhor foi de por medo até no que se dizia delegado do lugar, foi à busca de João e não o encontrou. Colocou o arreio em seu mais rápido cavalo e foi na direção onde disseram ter visto o rapaz partir.
Cavalgou por dois dias inteiros até desistir de achar o rapaz e voltar para a casa. Foram mais dois dias até chegar ao vilarejo, mas sentiu algo diferente no olhar dos que passavam por ele naquele dia. Um olhar de chacota ou até de pena. Não quis saber e foi direto para casa.
A porta se abriu com um silencio diferente, caminhou pela sala escura e foi até a cozinha. Um frio agora o amedrontava. Olhou os quartos das crianças e achara o mesmo, nada. Foi então que ao entrar em seu quarto viu um bilhete sobre a cama.
Com sua leitura ruim de um homem que só tinha cursado até a quarta serie, leu aos poucos sem acreditar nas palavras que ali estavam. Correu a sala e pegou novamente no seu revolver, lembrou que nele só existia uma bala. Foi com ela que deu um tiro na própria cabeça.
Talvez ele não tenha aceitado o fato de sua família ter fugido com João. Mas não por sua filha ter partido, mas por sua esposa dizer naquele bilhete tão breve, fui embora com o homem que deu mais valor a família que ao trabalho.